Os três últimos filmes franceses que assisti, sem saber o roteiro, trataram do tema da imigração (legal e ilegal) com focos bem diferentes, mas com finalidades parecidas:  deixar uma mensagem de igualdade entre povos e raças. E não é coincidência, o assunto da imigração é uma preocupação no país, já que é inegável a exclusão social de muitos imigrantes, tanto quanto a violência e o surgimento de partidos políticos de ultradireita (racistas declarados) e do fortalecimento do partido Força Nacional, com esse mesmo caráter. E isso não pode acontecer na França que tem como princípios básicos: liberté, égalité,  fraternité (liberdade, igualdade, fraternidade).

Vou começar pelo último que vi nessa semana em versão original (todas as quartas- feiras, com legendas em espanhol) no Dreams Cinema (Calle Silvano, 77):

  •  Les Héritiers (em espanhol, “La profesora de Historia”).

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É uma história baseada em fatos reais. Estreado na França em 2013 e na Espanha em dezembro de 2014. A maior parte do filme acontece em uma sala de aula de um colégio com maioria imigrante chamado Lycée Léon Blum de Créteil, que realmente existe. A princípio, os jovens mostram- se problemáticos, violentos, desinteresados e desmotivados. Entra em cena a professora de História, a senhora Anne Gueguen (a fantástica Ariane Ascaride), que muda a trajetória dos alunos condenados ao fracasso e descrédito pelo diretor que não acreditava neles e pelos próprios jovens que não tinham auto- confiança. A professora propõe que participem do Concurso Nacional da Résistance et de la Déportation (ao pé-da-letra: “Resistência e deportação”). Os alunos começaram a trabalhar com o tema do Holocausto. Esse é um filme que deveria ser adotado em todas as escolas do mundo, sem exceção. Um filme que emocionou- me bastante, inevitável caírem umas lagriminhas. Fica claro nessa história como o papel do professor é fundamental para a formação global dos alunos e que quando trabalha com seriedade e comprometimento, pode mudar a vida das pessoas. Tipo “Ao mestre com carinho”. Recomendadíssimo!

Veja o trailer (dublado em espanhol):


  • Qu’est-ce qu’on a fait au Bon Dieu? (em espanhol: Dios mío, ¿pero qué te hemos hecho? )

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Esse é totalmente diferente do primeiro, uma comédia, mas também é anti- racista. Na nova sociedade europeia onde a miscigenação é evidente, a integração não pode ser uma falácia. Integração só se faz com igualdade de condições. Os imigrantes e suas descendências, que já são também espanhóis, franceses, italianos, alemães…têm que ter as mesmas oportunidades de vida e trabalho que os cidadãos de origem francesa. A criação de guetos surge disso: de trabalhos precários e escassez de recursos. As leis contra o racismo também têm que ser mais duras.

Voltando…esse filme conta a história de um casal tradicional, super francês, super católico, que tem quatro filhas. Três delas casaram- se com franceses descendentes de imigrantes, de diferentes origens étnicas e religiões, nenhum católico: um árabe, um judeu e outro chinês. A quarta moça também vai casar- se e os pais torcem para que esse seja francês. Surpresa! O quarto genro é africano. Os pais são obrigados a conviver com religiões, culturas e raças diferentes.

Veja o trailer em espanhol:


  • O terceiro filme é um que já comentei aqui, Samba”.

sambaEsse filme é um drama misturado com comédia. O drama da imigração ilegal, as péssimas condições de vida e trabalho, os desafios diários, a dificuldade para esconder- se da família, o submundo e também as injustiças. Toca o coração. Mostra o que há por trás dos bastidores. Samba (Omar Sy) é imigrante em Paris há mais de 10 anos e finalmente irão contratá- lo como ajudante de cozinha, mas quando foi arrumar a documentação, recebe uma carta de deportação. Ele fica preso e pede ajuda a uma associação que ajuda imigrantes juridicamente.

Um dos personagens, Wilson (Tahar Rahin) se faz passar por um falso brasileiro, porque disse que é mais fácil encontrar trabalho. Ele aprendeu como dançar, falar e até vestir- se como um brasileiro. Então vamos ouvir música brasileira na trilha sonora.

Veja o trailer (em espanhol):


A maioria dos atores desses filmes são franceses de origem africana. Parabéns aos cineastas e roteiristas que estão dando um banho de coragem e lições de vida, mostrando aos racistas que não são melhores que ninguém. O ideal de igualdade, fraternidade e liberdade não é utopia. Que o neoliberalismo, o amor ao dinheiro, o consumismo desenfreado, seja substituído pelos valores humanos e o amor ao próximo.


Cinema e consciência! Até a próxima!